Do Turismo ao mundo dos dados: o que aprendi trabalhando no Sebrae

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No dia 01 de junho de 2015, depois de alguns meses de um acirrado processo seletivo, comecei a minha trajetória profissional como analista de turismo no Sebrae Nacional, em Brasília.

Recém chegada de Minas Gerais, com experiências anteriores no poder público e em uma pequena consultoria, me surpreendeu a diversidade de temas nos quais a instituição atua.

O Sebrae tem projetos que atendem desde os pequenos artesãos presentes nos interiores Brasil afora até as startups super tecnológicas que estão caminhando para se tornar unicórnios globais. E nesta vastidão de iniciativas, o que levanta uma reflexão interna sobre o foco, o turismo encontra um lugar de destaque.

Durante os pouco mais de três anos que fiz parte do time de turismo fui compreendendo a dimensão que o segmento tem. Aprendi, e ouso a dizer, que o Sebrae é um dos principais braços executores das políticas públicas de turismo no país.

São anos de engajamento, e às vezes liderança, nos diferentes projetos desenvolvidos: implementação de Normas Técnicas, Programa Aventura Segura, Índice de Competitividade do Turismo Nacional, dezenas de Salões de Turismo, Talentos do Brasil Rural...

A lista é vasta, os resultados transformadores, mas é claro, não isentos de algumas críticas - como a descontinuidade de algumas iniciativas que precisariam de mais tempo para se consolidar, a forte pressão política recebida, o que influencia algumas decisões que deveriam ser técnicas, etc.

Passados esses três anos, eu que sou turismóloga de carteirinha, decidi que era hora de trocar de ares e experimentar novos desafios na carreira. Migrei para outra unidade do Sebrae e comecei a trabalhar com dados sobre os pequenos negócios, dos diferentes segmentos. Logo eu, que sempre fugi da matemática, estava imersa em um novo mundo que envolvia pesquisas quantitativas, monitoramento, cubos, nuvens e o tal do big data, tema do mais novo livro publicado aqui no LETS, pela colega Rayane Ruas.

Foi nesse momento que descobri um novo Sebrae e percebi as diferentes possibilidades que a academia, o poder público e a própria sociedade, podem encontrar nos dados coletados e disponibilizados pela instituição.

O DataSebrae é o repositório das principais pesquisas realizadas pelo Sebrae, tanto do Nacional quanto dos Sebrae/UFs. Nele, os usuários podem navegar por informações que buscam compreender a realidade dos pequenos negócios brasileiros e, a partir delas, tecer novas análises. Como um exemplo mais recente, desde o início do SARS-Cov-2, o Sebrae, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), se propôs a monitorar os impactos que a pandemia resultava nos pequenos negócios de inúmeros segmentos, dentre eles o turismo. Ao todo, foram realizadas 14 edições de uma pesquisa online, que contou com a participação de empresários de todos os estados brasileiros.

Sabemos que a pandemia foi devastadora, em diversos sentidos, para todo o mundo. Mas, os dados coletados pelo Sebrae auxiliaram a quantificar esse cenário e poderiam ter sido a base para direcionar as iniciativas emergenciais e construir políticas públicas mais consistentes.

Em um momento em que o desespero tomou conta da sociedade e que se esperava ações de socorro das diferentes esferas governamentais, e do próprio Sebrae, ter em mão esses dados, coletados e tratados praticamente em tempo real, era um trunfo que pouco foi aproveitado.

Acompanhando de perto essa questão, eu e outras três autoras, Ana Clévia Guerreiro, Fernanda Hummel e Helena Costa, nos motivamos a escrever o capítulo do livro “Pequenos negócios de turismo do Brasil na pandemia de COVID-19: efeitos da crise, perspectivas e sentimentos atuais”, disponível no livro “Turismo, Sustentabilidade e COVID-19”, também publicado pelo LETS.

Tendo como base os dados coletados pelo Sebrae/FGV, realizamos uma análise de nove variáveis econômicas: variação do faturamento semanal, impacto no faturamento mensal, fechamento temporário, fechamento definitivo, demissão de funcionários, medidas governamentais que poderiam ajudar, recorrência por empréstimos, inadimplência e expectativa para a recuperação da economia brasileira. Como complemento, e a fim de apurar dois exemplos reais para cada sentimento citado na pesquisa, entrevistamos gestores de oito pequenos negócios dos segmentos de turismo e de alimentação fora do lar.

Convido a você, que nos acompanha no blog do LETS, a acessar esse texto e conferir os principais achados do trabalho.

Como uma prévia, cabe aqui ressaltar que:

se por um lado a pesquisa Sebrae/FGV apresentou uma visão predominantemente negativa por parte dos empresários, nas entrevistas, apesar da brutal crise ainda enfrentada, surgiram elementos de recuperação e inovação em alguns negócios, indicando uma preocupação maior com a sustentabilidade das viagens.

Pouco antes da publicação do livro, no dia 01 de agosto de 2022, me despedi do Sebrae Nacional. Resolvi que era o momento de voltar a atuar mais diretamente com o turismo, do qual já estava afastada há quase quatro anos.

Posso dizer que saí com os horizontes ampliados, com uma admiração maior pela área técnica da instituição e encarando os dados, que eu tanto temia, como importantes aliados. Em um mundo acadêmico no qual os recursos são cada vez mais escassos, se utilizar de estruturas, como as do Sebrae, pode ser um caminho a ser mais bem explorado por todos nós.

Graziele Vilela

Graziele Vilela

Consultora de turismo. Pesquisadora do Laboratório de Estudos em Turismo e Sustentabilidade (LETS/UnB). Mestre em Turismo pela UnB. Turismóloga pela PUC Minas.
Itaúna, MG