Templo dos Pilares: Um potencial turístico escondido em Mato Grosso do Sul

Crédito: Prefeitura Alcinópolis

Um imponente templo construído por milhões de anos, totalmente projetado e erigido pela natureza, vigiado de perto, todo esse tempo, por um guardião de pedra misterioso e ricamente decorado pela história contada nas representações pictóricas de diversas gerações de ameríndios. Eis o roteiro fundamental da visita ao Parque Natural Municipal Templo dos Pilares, localizado na cognominada “capital estadual da arte rupestre”, Alcinópolis/MS. O título lhe foi conferido pela lei estadual nº 4.306, de 21 de dezembro de 2012.

Estudos arqueológicos realizados no local indicam dois momentos de ocupação dos ameríndios, um entre 2 e 3 mil anos atrás e outro entre 10 e 11 mil anos (AGUIAR, 2012). Para além da riqueza arqueológica o planalto mantém fenômenos geológicos com potencial turístico, composto por escarpas, falésias e cavernas, além de processos erosivos como o do Sítio Arqueológico Templo dos Pilares, o mais importante dentre os mais de vinte sítios encontrados na região.

Além das muitas manifestações de arte rupestre, a região conta com vários outros pontos turísticos e de interesse turístico, como os atrativos do Monumento Natural Municipal Serra do Bom Sucesso e a Serra do Barro Branco.

A área onde está o Parque do Templo dos Pilares faz parte do Monumento Natural Municipal Serra do Bom Jardim e foi resgatada de áreas rurais que exploravam carvoarias, manchando o município com os problemas sociais típicos a este tipo de atividade, como trabalho escravo e trabalho infantil. Em 2007, conforme relatado pelo Ministério Público do Trabalho (2008), foram resgatados 17 trabalhadores em condições análogas à escravidão em uma carvoaria da região.

O Parque, que foi tombado pelo IPHAN em 2003, começou a ser estruturado para visitação muito recentemente, com a organização de estudos para os ricos sítios ali existentes. Para operacionalizar a visitação, a Prefeitura de Alcinópolis tem organizado cursos e credenciamento de condutores turísticos (ainda não existem guias de turismo credenciados) e cuidando das condições logísticas mínimas para acessos aos locais “turistificáveis”.

São locais “turistificaveis”, pois estão longe de prontos para o turista. Para agendar a visitação é necessário entrar em contato com a prefeitura de Alcinópolis dentro do seu horário de funcionamento, e esta faz a indicação do guia. Acertado o passeio, o acesso se dá em meio a propriedades rurais particulares em cerca de 40 km de estrada não pavimentada e com boa parte em condições extremamente precárias. Nos locais de visitação não existem receptivos, banheiros ou qualquer outra infraestrutura de apoio ao turista. A sinalização é parca e inadequada, e a condução dos grupos é feita por pessoas esforçadas, que têm boa experiência e conhecimento dos perigos e rumos dos sítios e atrativos, mas pouca informação científica sobre eles. Mas os locais são belíssimos.

Nossa visita foi realizada por uma condutora que se esforçava em conseguir estórias interessantes sobre as manifestações pré-históricas, no afã de entreter o grupo, mas as dificuldades inerentes a um atrativo turístico em descobrimento foram totalmente compensadas pela relevância das suas potencialidades e pela Trilha do Por do Sol, em que o espetáculo do fim do dia de cima das escarpas do planalto mostra todo o esplendor.

Aparentemente o turismo ainda não é considerado um negócio rentável para a cidade, pelo menos não o suficiente para atrair grandes investimentos públicos e privados em sua profissionalização. Esse compasso de espera, da decisão política ou econômica, é comum em muitos dos nossos atrativos potenciais, mas é um lugar que, no futuro, será visitado por maiores contingentes de turistas e deveria ser um dos primeiros a receber a atenção do setor de hospitalidade e turismo de Mato Grosso do Sul. Enquanto não chegam os recursos, o guardião de pedra continua sua vigília sobre a história, a natureza e a beleza desse lugar.

José Roberto da Silva Lunas

José Roberto da Silva Lunas

Professor Associado da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Administrador, Doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo CDS/Universidade de Brasília. Pesquisador do LETS/UnB.
Dourados, Mato Grosso do Sul.
Maria Cristiane Fernandes da Silva Lunas

Maria Cristiane Fernandes da Silva Lunas

Bacharel em turismo, com mestrado e doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. Professora Adjunta na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).
Dourados - Mato Grosso do Sul - Brasil