Poluição plástica no litoral brasileiro e o turismo

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A poluição plástica é uma preocupação global que foi trabalhada no projeto Plásticos de uso único do turismo costeiro no Brasil, realizado pelo LETS, a convite do PNUMA Brasil.

A partir dos levantamentos de dados, trocas e reflexões, os pesquisadores do LETS estão produzindo materiais acadêmicos que possam fazer reverberar o tema e fortalecer a discussão sobre ele, ainda incipiente no contexto brasileiro. Para Helena Costa, coordenadora do projeto e do LETS:

"o tema dos plásticos de uso único é urgente, contemporâneo e pede ações coordenadas imediatas, em favor de uma economia circular. O turismo, certamente, pode ser um protagonista da mudança necessária porque tem um duplo papel: contribui para a poluição plástica, ao mesmo tempo que depende de ambientes naturais bem conservados para oferecer uma experiência  turística de qualidade"

O primeiro artigo científico originário deste estudo foi publicado hoje na principal revista nacional de pesquisa em turismo, a Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo. Os autores foram David Bouças (UFMA), Jaqueline Gil (UnB), Elimar Nascimento (UnB), Helena Costa (UnB) e Ravel Paixão (UFMA).  Este artigo traz o enfoque sobre a pesquisa de dados primários realizada junto a meios de hospedagem, no total de 41 empreendimentos situados em 6 estados e 11 localidades litorâneas.

O pesquisador David Bouças ressalta que

"esta visão é pioneira nos estudos brasileiros de turismo e pode elevar o grau de conhecimento que se tem sobre a questão dos plásticos de uso único, excessivamente presentes nas atividades turísticas costeiras".

Os resultados mostram que decisões econômicas são prioritárias às ambientais, e não há visão majoritária de relação direta entre poluição plástica e redução nos fluxos turísticos. Todos os empreendimentos utilizam PDUs, sobretudo copos, garrafas e sacolas. Entre as estratégias para geri-los, destacam-se ações de substituição, redução, educação ambiental e treinamentos internos.

O estudo indica que reduzir/substituir itens como embalagens e amenities exige mudanças na indústria e no comportamento de consumo da clientela. Há, ainda obstáculos para as melhorias na gestão destes materiais, tais como: inexistência de alternativas com qualidade e preço, resistência dos consumidores, e apoio limitado dos investidores e lideranças. Por fim, o trabalho conclui que prevalece a lógica linear de uso e descarte, em detrimento da economia circular. Não se percebeu variações significativas entre os tipos de empreendimentos e essas se devem mais aos seus gestores. Finalmente, o contexto da pandemia agrava a problemática da poluição plástica, requerendo maior atenção ao tema.

Na visão dos autores, este projeto é especialmente valioso porque mostra as possibilidades de uma atuação da universidade em parceria com organismos internacionais e a sociedade em prol de atuar em questões socioambientais relevantes.

Abaixo está o resumo do estudo, que pode ser acessado gratuitamente e na íntegra aqui

Resumo

Este artigo identificou as percepções de gestores de empreendimentos hoteleiros litorâneos acerca da problemática dos plásticos de uso único (PDUs). A pesquisa foi predominantemente qualitativa, exploratória e transversal com 41 meios de hospedagem de 8 tipos situados em 6 estados brasileiros e 11 localidades litorâneas. Como técnica de coleta de dados se aplicou um roteiro semiestrutu-rado e, para interpretação, adotou-se a análise de conteúdo. Os resultados indicam que decisões econômicas são prioritárias às ambientais, e não há visão majoritária de relação direta entre poluição plástica e redução nos fluxos turísticos. Todos os empreendimentos utilizam PDUs, sobretudo copos, garrafas e sacolas. Entre as estratégias para geri-los, destacam-se ações de substituição, redução, educação ambiental e treinamentos internos. Reduzir/substituir itens como embalagens e amenities exige mudanças na indústria e no comportamento de consumo da clientela. Inexistência de alternativas com qualidade e preço, resistência dos consumidores, e apoio limitado dos investidores e lideranças aparecem como obstáculos para ampliar e aperfeiçoar a gestão dos PDUs. Conclui-se que prevalece a lógica linear de uso e descarte, em detrimento da economia circular. Não se percebeu variações significativas entre os tipos de empreendimentos e essas se devem mais aos seus gestores. Finalmente, o contexto da pandemia agrava a problemática da poluição plástica, requerendo maior atenção ao tema.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente/Brasil) pela oportunidade de ampliar o debate nacional sobre o tema. Agradecem à equipe de apoio (Daniela Nazar, Erica Giampaolo, Júlia Souto, Nayara Marques e Otávio Augusto de Oliveira), a todos os colaboradores de campo da pesquisa (Ana Neri da Paz Justino, Barbara Rodrigues, Elaine Borges, Igor Carneiro de Almeida, Luiz Gustavo Rittl e Wilker Nóbrega), a Alexander Turra pelas contribuições ad hoc durante o desenvolvimento do estudo, e aos respondentes, mantidos aqui sem identificação em razão do acordo de anonimato firmado.

Helena Costa

Helena Costa

Coordenadora do LETS/UnB. Professora Associada III do Departamento de Administração da Universidade de Brasília. Doutora em Desenvolvimento Sustentável. Mestre em Turismo. Administradora.
Brasilia, Brasil