As principais políticas públicas nacionais de mudanças climáticas e de turismo no Brasil (entre 2003 e 2022) foram analisadas em artigo recentemente publicado na Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo (RBTUR). O artigo, intitulado Agenda climática e o turismo no Brasil: contribuições para políticas públicas de adaptação frente às mudanças climáticas é resultado de nosso trabalho iniciado na disciplina de Mudanças Climáticas no CDS/UnB[1]. As políticas públicas voltadas para os desafios da emergência climática e as medidas de adaptação necessárias ao setor turístico pouco avançaram até 2022. Confira alguns highlights do artigo:
● Diretrizes internacionais e políticas nacionais para mitigação e adaptação às mudanças climáticas no turismo são estratégias essenciais para evitar desastres, promover justiça climática e para oferecer suporte às iniciativas locais – além de seu papel para liderar o engajamento do setor privado.
● Constatou-se que existe um baixo nível de integração entre as políticas climáticas e as políticas de turismo.
● Observou-se o não engajamento do setor nas questões climáticas, além da falta de protagonismo do Brasil nos diálogos internacionais sobre mudanças climáticas e turismo até 2022.
● As sugestões para pesquisas futuras foram: compreender os efeitos concretos de acordos multilaterais de turismo e mudanças climáticas; avaliar e monitorar os impactos de sua implementação para o enfrentamento dos desafios climáticos; avaliar possíveis mudanças em virtude das priorizações e enfoques do governo 2023-2026.
Porém, em 2023, em um ano marcado pela seca histórica no Amazonas (post #LETS sobre o tema aqui), chuvas torrenciais no sul do Brasil e recordes de temperaturas (ondas de calor) em diversas regiões, observa-se que estes fenômenos extremos passam a afetar cada vez mais as escolhas dos turistas. A pesquisa Booking ‘Previsões de Viagem para 2024’ lançada em novembro (2023) destacou que 70% dos entrevistados indicaram preferência por destinos mais frescos em relação à temperatura de sua cidade de origem.
Vale mencionar alguns casos brasileiros de engajamento climático com destaque para a cidade de Bonito-MS, referência em ecoturismo, primeiro destino neste segmento certificado como carbono neutro no mundo (Câmara, 2023) e signatário da Declaração de Glasgow para Ações Climáticas e Turismo, além de empresas aéreas e suas políticas e iniciativas de redução e compensação de emissões de GEE (gases de efeito estufa).
As três principais empresas de aviação que operam o mercado doméstico brasileiro - Azul, Latam e Gol - acompanham o comportamento mundial, e adotam políticas de sustentabilidade e ações ESG (Environmental, Social and Governance) que combinam o investimento em soluções para a redução das emissões de GEE, ações de compensação e redução de emissões, com investimentos na modernização de frotas, desenvolvimento de tecnologias para aeronaves e biocombustíveis, apoio a projetos de restauração, ajustes de rotas e programas de compensação voluntária destinado aos passageiros (Azul, 2023; Gol, 2023; Latam, 2023).
Do ponto de vista das políticas públicas de turismo, 2023 termina com novidades, ainda que incipientes. Foram criadas áreas específicas para trabalhar com os desafios climáticos em diferentes órgãos do governo federal. Ações para adaptação e mitigação às mudanças climáticas foram tema de três publicações recentes do setor:
● Guia de Ação Climática para Empresas e Destinos Turísticos, lançado pela Embratur e Green Iniciative;
● Caderno didático Caminhando para a resiliência no turismo - Gestão de crises e desastres;
● Ação Climática em Turismo no Brasil: Primeiros Passos Rumo a um Plano Nacional de Ação Climática para o Turismo Brasileiro, do Ministério do Turismo e Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Além disso, as três premiações mais importantes do setor turístico no país, Prêmio de Turismo Responsável WTM Latin America, o Prêmio Nacional do Turismo 2023 - o turismo transformando vidas e o Prêmio Braztoa de Sustentabilidade 23/24 contêm categorias ou critérios de avaliação conectados às ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. As listas de finalistas dos prêmios, já disponíveis nos sites dos diferentes organizadores, apresentam exemplos de iniciativas (pontuais) pelo país.
A Cúpula Climática da ONU, a COP-28, em Dubai - Emirados Árabes, está sendo realizada de 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023. “Este é um momento crítico para o engajamento multilateral”, ressaltou o secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell. No dia 05 de dezembro, será realizado evento focado no turismo (com transmissão ao vivo), o side-event Tourism United for Climate Action – Delivering on the Commitments of the Glasgow Declaration - confira a programação completa aqui.
Com isso, na luta coletiva contra a emergência climática, o papel da Academia, integrada e em parceria com sociedade, setor privado e gestão pública, é fundamental. Tanto para fomentar a produção de conhecimentos que colaborem para mitigar e viabilizar formas de adaptação à emergência do clima, quanto para a sensibilização de novos atores-chave para este tema tão necessário, promovendo a justiça climática (post LETS aqui).
Artigo completo disponível gratuitamente em: https://rbtur.org.br/rbtur/article/view/2759/1570
Mais informações e referências:
Gil, J., Marques, N. R., & Andrade, G. N. de. (2023). Agenda climática e o turismo no Brasil: contribuições para políticas públicas de adaptação frente às mudanças climáticas. Revista Brasileira De Pesquisa Em Turismo, 17, 2759. https://doi.org/10.7784/rbtur.v17.2759
Booking (2023). Espreite o futuro: revelamos as nossas previsões de viagens para 2024. https://partner.booking.com/pt/click-magazine/trends-insights/2024-travel-predictions
Brasil. Ministério do Turismo. Pesquisa revela como as mudanças climáticas irão influenciar o comportamento dos viajantes brasileiros. https://www.gov.br/turismo/pt-br/assuntos/noticias/pesquisa-revela-como-as-mudancas-climaticas-irao-influenciar-o-comportamento-dos-viajantes-brasileiros
Ação Climática em Turismo no Brasil: Primeiros Passos Rumo a um Plano Nacional de Ação Climática para o Turismo Brasileiro: Https://www.gov.br/turismo/pt-br/centrais-de-conteudo-/publicacoes/BID_Acao_Climatica_Turismo_VFinal2.pdf
AZUL. O Céu é azul: Relatório de Sustentabilidade 2022. Disponível em: <https://ri.voeazul.com.br/informacoes-e-relatorios/sustentabilidade/>. Acesso em: 2 set. 2023.
GOL LINHAS AÉREAS. Política de Sustentabilidade. Disponível em: <https://www.voegol.com.br/sobre-a-gol/sustentabilidade>. Acesso em: 2 set. 2023.
LATAM AIRLINES. Programa Um Destino Necessário. Disponível em: <https://www.latamairlines.com/br/pt/sustentabilidade>. Acesso em: 2 set. 2023
Guia de Ação Climática para Empresas e Destinos Turísticos: https://embratur.com.br/wp-content/uploads/2023/03/Guia-de-Acao-Climatica-para-Empresas-e-Destinos-Turisticos.pdf
Caderno didático Caminhando para a resiliência no turismo - Gestão de crises e desastres: https://www.gov.br/turismo/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/turismo-responsavel/copy_of_CartilhacaminhandoparaaResilincianoTurismo.pdf
Prêmio de Turismo Responsável (wtm.com)
CÂMARA, J. Bonito é o 1o destino de ecoturismo carbono neutro no mundo. Disponível em: <https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2023/08/07/bonito-e-o-1o-destino-de-ecoturismo-carbono-neutro-do-mundo-veja-atrativo-certificado.ghtml.>. Acesso em: 7 set. 2023.
Nações Unidas. COP28: Momento crítico em nossa luta coletiva contra a crise climática. COP28: Momento crítico em nossa luta coletiva contra a crise climática | As Nações Unidas no Brasil
Finalistas – Prêmio Nacional do Turismo 2023: https://www.gov.br/turismo/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/ResultadoDefinitivoFinalistasIniciativasdeDestaque.pdf
Finalistas - Prêmio Braztoa de Sustentabilidade 2023/2024: DIVULGAÇÃO CLASSIFICADOS FINALISTAS PBS 202324.pdf - Google Drive
[1] Aproveitamos a oportunidade para agradecer publicamente a tod@s que contribuíram e apoiaram esta pesquisa, em especial aos membros LETS/UnB e participantes do Encontro LETS Mudanças Climáticas e Turismo e aos professores do Centro Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS/UnB), S. R. Pereira Filho, F. A. G. Mertens, J. A. L. Drummond e J. L. A. Franco. Agradecemos também a K. Ripoli pela revisão do inglês e espanhol. Somos gratas aos revisores anônimos pelos seus valiosos comentários e a todos(as) colegas das disciplinas de Mudanças Climáticas e de Oficina de Escrita Científica do CDS/UnB.
