Turismo em 2022: o que esperar?

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Por Helena Costa e Jaqueline Gil

A pandemia parece ser uma velha conhecida a essa altura, mas incertezas ainda ofuscam nosso campo de visão. O turismo iniciou 2022 com expectativas positivas, quando foi arrebatado por variantes do SARS-COV2 em propagação. Segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), a economia das viagens pode chegar a US$ 8,6 trilhões nesse ano, apenas 6,4% inferiores a 2019. No Brasil, as perspectivas para o ano também são positivas, mas ainda exigem cautela e trabalho para fortalecer políticas coerentes com uma retomada segura e competitiva. Desdobramentos no turismo seguem pendentes de segurança sanitária, vacinação e estabilidade econômica, como brasileiros indicaram em pesquisas realizadas pelo Laboratório de Estudos de Turismo e Sustentabilidade (LETS/UnB) no início da pandemia.

Apontamos duas frentes de oportunidades e desafios no turismo brasileiro em 2022:

Mobilidade e bem-estar das pessoas. Destaque às viagens domésticas: ainda que viagens internacionais retornem, viajar no Brasil ainda é majoritário. Além da desvalorização do Real, houve aumento nos impostos sobre pagamentos e remessas ao exterior (de 6 para 25%), encarecendo movimentações internacionais. A busca por bem-estar amplia-se na mesma proporção do esgotamento das pessoas com a intensa rotina de restrições sociais e ambientes virtuais. Em momentos de lazer, descanso e desconexão, sobretudo ao ar livre, seguem como preferências. Praias, rios e áreas naturais, cidades pequenas e comunidades tradicionais que ofereçam bons serviços e acesso exclusivo a conhecimentos autênticos atraem, principalmente se protocolos sanitários garantirem certa segurança de populações mais vulneráveis aos impactos da pandemia. As flexibilidades do trabalho remoto são oportunidades para destinos e empresas, sobretudo para nômades digitais nacionais ou estrangeiros, recebidos no país com visto especial recém regulamentado. Viagens flexíveis e de última hora são a regra, principalmente porque planos mudam com frequência e os efeitos das remarcações seguem em cascata.

Sustentabilidade, economia e tecnologias. A busca por sustentabilidade aparece como movimento global e reflete em viagens. 78% dos brasileiros entrevistados pela Booking.com apresentam intenção de viajar de forma mais sustentável. No mercado, o Google lançou selo de “certificação ecológica” e empresas brasileiras já buscam neutralização de carbono. As desigualdades aumentam, no mundo, conforme o World Inequality Report 2022. Multimilionários enriqueceram na pandemia, enquanto muitos padecem com insegurança alimentar, desemprego e inflação. Para o turismo, o resultado tende a ser menos viagens para classe média e mais serviços diferenciados para viajantes com elevado poder aquisitivo. O uso crescente de tecnologias deve se intensificar para facilitar soluções sem contato humano, simplificar processos e acelerar soluções para sustentabilidade.

2022 provavelmente não é – ainda – o ano da retomada integral das atividades turísticas, mas deve consolidar oportunidades para quem se adaptou às mudanças. É momento de transitar para um turismo que oferece experiências excelentes, cuida das pessoas e do meio ambiente, capaz de gerar prosperidade, reduzir desigualdades, potencializar inovação e preservar nossa rica biodiversidade. Só assim poderemos reengajar no cenário internacional com segurança e alguma competividade, assim que nos permitirem as circunstâncias pandêmicas.

Este texto foi publicado, originalmente, em 21/2/2022 no Portal UnB Notícias Artigos/ SECOM Universidade de Brasília.

Helena Costa

Helena Costa

Coordenadora do LETS/UnB. Professora Associada III do Departamento de Administração da Universidade de Brasília. Doutora em Desenvolvimento Sustentável. Mestre em Turismo. Administradora.
Brasilia, Brasil
Jaqueline Gil

Jaqueline Gil

Doutoranda no Centro de Desenvolvimento Sustentável na Universidade de Brasília (UnB) e CEO da consultoria Amplia Mundo. https://www.linkedin.com/in/jaquelinegil/
Brasilia