O primeiro dia dedicado ao Turismo no âmbito da Conferência das Partes da UNFCCC (COP / Mudança do Clima) aconteceu em 20 de novembro de 2024, na COP29 em Baku, Azerbaijão. Isso significa que a agenda de alto nível do turismo incorporou-se à agenda internacional de meio ambiente e mudança do clima. A primeira é uma jovem caloura. A segunda, uma veterana precursora de movimentos a favor do desenvolvimento sustentável, desde meados do século XX, com crescente engajamento internacional.
O turismo agora tem assento, voz, direitos e deveres na construção de um presente e de um futuro em mais harmonia entre humanos e natureza. A responsabilidade aumentou. Líderes de todos os continentes se encontraram, em Baku, para discutir uma agenda climática para o turismo, com compromissos ambiciosos e direcionados aos desafios e às oportunidades do setor. Foi um dia memorável, de revigorado otimismo sobre nosso futuro.
No caso dos profissionais do turismo e das relações internacionais do Brasil, em que me incluo, essa responsabilidade é ainda maior. Como anfitrião da COP30, o Brasil definirá a agenda prioritária da Conferência. No caso do Dia Temático do Turismo, o Ministério do Turismo deverá trabalhar em conjunto com a UN Tourismpara continuidade das tratativas iniciadas em Baku, além de aprofundá-las e aportar novas propostas e estratégias.
Qual a posição do Brasil na discussão global de mudanças climáticas e turismo? Como o turismo no Brasil tem atuado em relação às mudanças do clima? Setores público e privado, como discutem e agem à luz da temática?
As discussões estão em estágio inicial no Brasil. Há casos de excelência no país, mais no âmbito privado do que no público. Mas estão longe de serem suficientes, ou transformadores. Há uma necessidade de as lideranças do turismo acelerarem o passo, não apenas mas especialmente no Brasil.
Tive o privilégio de participar do “UN Climate Change COP 29 Tourism Thematic Day”. Na foto, meu largo sorriso representa muito. A integração do turismo às principais agendas internacionais sempre me nortearam profissionalmente. Viajei a convite da UN Tourism , a quem muito agradeço pela oportunidade.
Resumo as principais reflexões, desconfortáveis mas otimistas:
- Medir, descarbonizar, adaptar, regenerar, financiar e inovar foram os principais verbos nas mesas de discussão e de negociação. Nenhum deles é de simples implementação, mas todos eles carecem de urgente ação.
- A cocriação das soluções é o caminho. A crise climática é séria, complexa e impacta a todos. As soluções precisam de velocidade, em suas cocriações e implementações.
- A colaboração precisa acontecer em âmbito local, nacional, regional e global. Quem emite e quem é mais impactado não necessariamente estão no mesmo local, ou atuam nas mesmas proporções. Parcerias, entre o público e o privado, o local e o global, nunca fizeram tanto sentido, sobretudo em apoio às regiões e comunidades mais vulneráveis. Isso também é parte da justiça climática.
- Perfeição é menos importante do que velocidade. Não há mais tempo para discussões sobre os melhores caminhos. A ciência já nos indica desafios e aponta para necessárias mudanças de rumos há décadas. A partir de agora, é direcionar a proa do barco e remar, todos na mesma direção e na velocidade mais alta possível.
- A adoção da Declaração de Baku para o Fortalecimento das Ações Climáticas em Turismo (ou apenas Declaração de Baku) é passo importante para priorização da temática em políticas públicas de turismo, e investimentos públicos. Ainda que esta Declaração seja voluntária, ela aporta medidas para a descarbonização do turismo, integrando-as às Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Acordo de Paris, que são compulsórias. Mais de 50 países assinaram o documento, inclusive o Brasil.
- São necessárias mudanças sistêmicas e transformadoras, a fim de reduzir rapidamente as emissões do turismo, que são incrivelmente crescentes e robustas. Promover soluções para reduzir as emissões, bem como compensá-las, é essencial e urgente.
- Importante revisitar a alocação dos recursos, humanos, energéticos e financeiros. Um caminho para os tomadores de decisão é fazer-se a pergunta: o direcionamento dos investimentos atuais resolve o problema, ou aprofunda-o? Aprofundar o conhecimento entre as equipes, transitar para matriz energética com baixa ou baixíssima emissão de gases poluentes e implementar economia circular são ações imediatas, apesar de complexas.
- A Declaração de Glasgow para Ações Climáticas em Turismo, cujos 900 signatários comprometem-se em publicar seus planos de ações climáticas anualmente, teve destaque em Baku com 58 novos signatários anunciados. Apesar do progresso, mais aprimoramentos e participação global, sobretudo de governos, são necessários para promover Glasgow como mecanismo de colaboração e aprendizado compartilhados.
- Enquanto a Declaração de Glasgow tem um foco maior nos prestadores de serviços, a Declaração de Baku é direcionada aos países e seus órgãos centrais de turismo. São complementares e integradas ao mesmo contexto na UN Tourism .
- A UN Tourism coordena a matriz para mensuração de indicadores de sustentabilidade e ações climáticas no turismo, a UN Statistical Framework for Measuring the Sustainability of Tourism. É necessário mais colaboração para aprimorar a ferramenta, e, cada vez mais, as mensurações de carbono.
As lideranças brasileiras tem o privilégio e a responsabilidade de dar continuidade à agenda climática do turismo globalmente. É possível inspirar-se na liderança do Brasil para os temas do meio ambiente. Sempre importante lembrarmos que ocorreu no Rio de Janeiro, em 1992, a assinatura da Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudanças do Clima (UNFCC, da sigla em inglês), que deu origem aos protocolos de Kyoto e de Paris, de onde decorrem as COPs e as NDCs.
Será o turismo brasileiro capaz de ser líder? Eu voto e espero que sim! É sobre nosso futuro na Terra, antes de tudo.